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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Confiabilidade dinamômetros manuais

 
Avaliação da confiabilidade dos dinamômetros manuais
JamarÒ e KratosÒ

 Evaluation of the reliability of the manual dynamometers
JamarÒ and KratosÒ

Maicon Chiodi, Lygia Paccini Lustosa, Cláudia Venturini
 
 
RESUMO

A mensuração da força de preensão manual é um importante desfecho clínico utilizado na avaliação e acompanhamento dos indivíduos com disfunções da mão e punho. Para isso, é necessário conhecer a confiabilidade e validade destes instrumentos. Portanto, o objetivo do presente estudo foi verificar a confiabilidade teste-reteste dos dois dinamômetros manuais KratosÒ e JamarÒ e averiguar a validade concorrente do dinamômetro KratosÒ em relação ao JamarÒ. Um único examinador, treinado previamente, realizou as medidas de força de preensão da mão dominante com o uso dos dois dinamômetros. Participaram 31 indivíduos, com média de idade 22.48 anos, sem distinção de gênero, sedentários, sem queixas ortopédicas ou neurológicas.  Como resultado foi observado que os aparelhos KratosÒ e JamarÒ apresentaram concordância e confiabilidade moderada (r= 0,74, a= 0,001). Conclui-se que, apesar dos aparelhos apresentarem características distintas, ambos demonstraram boa confiabilidade e são semelhantes na mensuração da força de preensão manual, sendo adequados para utilização na prática clínica.
Palavras-chaves: confiabilidade, dinamômetro manual, força de preensão.

Abstract

The measurement of grip strength is an important clinical outcome used in the evaluation and monitoring of individuals with disorders of the hand and wrist. For this you need to know the reliability and validity of these instruments. Therefore, the objective of this study was to assessment the test-retest reliability of two manuals dynamometers JamarÒ and KratosÒ and to investigate the concurrent validity of the dynamometer for Kratos Ò to JamarÒ. A single examiner previously trained, performed the measurements of grip strength of dominant hand with the use of two dynamometers. Thirty-one individuals participated, with a mean age 22.48 years, irrespective of gender, sedentary, with no orthopedic or neurological dysfunctions. The results showed that the devices and Jamar and KratosÒ showed moderate agreement and reliability (r= 0,74, a= 0,001). Concludes that, although having different characteristics both have a good reliability and are similar in the measurement of the grip strength, suitable for use in clinical practice.
Key-words: reliability, manual dynamometer, grip strength.



INTRODUÇÃO
Em um processo de avaliação utiliza-se de mensurações para inferir e estabelecer diagnósticos de um indivíduo. Medição é o ato ou processo que permite a comparação quantitativa dos resultados.1 A qualidade de uma medição é freqüentemente avaliada por suas propriedades clinimétricas que considera os critérios tais como confiabilidade, validade e responsividade.1,2

Uma das propriedades clinimétricas mais importantes é a confiabilidade, que diz respeito ao grau em que uma medida está livre de erro. Ela é quantificada pelo grau em que as medições são consistentes e reprodutíveis.1 Para um instrumento ou medida ser utilizado na prática clínica é importante determinar a sua confiabilidade.1,2,3 
A avaliação da força muscular de preensão é amplamente utilizada na prática clínica, na reabilitação das disfunções da mão e do punho ou mesmo para inferir força muscular do indivíduo como na área da geriatria e gerontologia. Existem vários métodos de mensuração para esta força, desde o teste de força manual, onde o terapeuta utiliza o parâmetro de avaliação subjetiva por meio de uma resistência imposta ao movimento, até métodos mais confiáveis como os dinamômetros manuais.1,2, 4

Nesse contexto, a busca pela prática baseada em evidência científica vem apontando para a necessidade de medidas mais confiáveis e válidas que possam ser utilizadas nos desfechos clínicos. Dessa forma, os dinamômetros manuais vêm sendo amplamente utilizados na prática clínica. Entre os que existem no mercado, pode-se citar o dinamômetro JamarÒ e o dinamômetro KratosÒ.

Esses dois dinamômetros - JamarÒ e KratosÒ - são instrumentos que contém um sistema hidráulico fechado que mede a quantidade de força de preensão produzida por uma contração isométrica aplicada sobre suas alças. Essa força de preensão da mão é registrada em quilogramas ou libras. O design dos aparelhos é diferente, principalmente em relação à suas alças. O dinamômetro JamarÒ pode ser adaptado à mão do indivíduo, enquanto que o dinamômetro KratosÒ possui alças fixas, que não permitem a adaptação. Uma outra vantagem do dinamômetro JamarÒ é ser mais leve, não exigindo grandes esforços para mantê-lo na posição correta durante as medidas. Em contrapartida, uma desvantagem desse aparelho, citada na literatura, é o custo mais elevado quando comparado a outras marcas. Em relação às propriedades clinimétricas, em especial à confiabilidade do instrumento, não existem trabalhos apontando que essas vantagens e desvantagens, citadas acima, interfiram nas medidas. Por outro lado, existem vários estudos que utilizam o dinamômetro JamarÒ, enquanto que, estudos demonstrando as propriedades clinimétricas e a utilização do dinamômetro KratosÒ são raros.1-10

Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi (1) verificar a confiabilidade teste-reteste dos dois dinamômetros manuais - KratosÒ e JamarÒ e (2) averiguar a validade concorrente do KratosÒ em relação ao JamarÒ.


MÉTODOS
Trata-se de um estudo metodológico, com uma amostra de conveniência, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob o parecer de número XX/ 2009.

O cálculo amostral determinou a necessidade de 30 indivíduos, por meio de um estudo piloto com dez voluntários, considerando um avaliador, um nível de significância de 5% e um poder estatístico de 80%. Todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido aprovado pelo CEP, concordando em participar do estudo.

Amostra
Participaram do estudo 32 voluntários, sem distinção de gênero, raça e/ ou condição social, com idade entre 20 e 30 anos, recrutados por meio de cartazes afixados em uma escola de ensino superior e por indicação dos próprios voluntários. Os critérios de exclusão foram: indivíduos que apresentassem dor na região cervical ou nos membros superiores, história de fratura em membros superiores, relato de diagnóstico de disfunções ortopédicas nos últimos seis meses na região cervical e em membros superiores ou alteração de sensibilidade nas mesmas regiões. Assim, foram avaliados 32 voluntários, sendo um deles excluído da análise por apresentar queixa de dor no membro superior.

Instrumentos
O dinamômetro JamarÒ é um aparelho que possui duas alças paralelas, sendo uma fixa e a outra móvel (Figura 1). Elas podem ser ajustadas em cinco posições diferentes, 4 propiciando um ajuste ao tamanho da mão do indivíduo.5 A medida de força de preensão manual é realizada por meio de uma contração isométrica aplicada sobre as alças. Mathiowetz et al., após a comparação da precisão dos instrumentos Preston (Asimow Engineering®) e JamarÒ, afirmaram que esse último é um aparelho mais preciso e com maior confiabilidade (r0,97). A confiabilidade teste-reteste encontrada por esses autores mostrou um alto coeficiente de correlação (r0,80).6

O dinamômetro KratosÒ possui alças fixas e não permite a adaptação (Figura 2).  Seu visor de leitura fica voltado para o indivíduo testado, o que permite ao mesmo acompanhar seu desempenho no momento do teste. Até o momento, não foi encontrado estudos de confiabilidade desse instrumento.

Procedimentos
Os voluntários foram recrutados por meio de convite verbal de um dos pesquisadores, nas salas de aula ou corredores de uma instituição particular de ensino superior e por meio de indicações dos próprios voluntários.

Inicialmente, todos os voluntários responderam a um questionário construído especificamente para esse estudo, para garantir os critérios de exclusão e caracterizar a população estudada. Esse questionário constou de perguntas a respeito de sua saúde, bem estar e presença de queixas e doenças prévias em relação à coluna cervical e membros superiores.

Na seqüência, foi realizado um sorteio, para cada voluntário, para determinar com qual dinamômetro seria iniciado o teste. Estabelecida a seqüência de avaliação, o voluntário foi instruído em relação ao posicionamento padrão para a realização das medidas. Dessa forma, ele permaneceu assentado, em cadeira padrão, sem apoio de braços. Os membros inferiores foram mantidos, de acordo com a literatura, em 90ºsendo de 90adotado de acordo com a literatura pante equipamentos se iniciaria o teste iagn de flexão de quadril e joelho com os pés apoiados no chão. Os membros superiores foram mantidos ao longo do corpo, ombro em posição neutra, cotovelo em 90º de flexão e em neutro de rotação, punho em posição neutra (Figura 3a e 3b). A mão testada foi sempre a mão dominante, determinada como aquela que o indivíduo escreve. No momento que segurava o dinamômetro foi orientado que não apoiasse no membro inferior. Após o comando padronizado de “Vai” o voluntário exerceu a maior força de preensão manual. Para cada aparelho realizaram-se duas medidas, totalizando quatro mediadas para cada voluntário. Houve alternância dos dinamômetros KratosÒ e JamarÒ, a partir do sorteio inicial e, foi mantido um intervalo de cinco minutos entre cada medida, para diminuir a possibilidade de fadiga. Para a análise estatística, foi considerada a maior medida realizada com cada aparelho.
 
Os resultados de cada teste, só foram reportados ao voluntário, ao final de todo procedimento. Para garantir essa condição, no momento das medidas com o dinamômetro KratosÒ, foi necessária a oclusão do aparelho com a colocação de uma cartolina opaca, para que o voluntário não visualizasse o seu marcador.

Análise estatística
As análises estatísticas foram realizadas no software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 14.0, 2004, em ambiente Windows. Utilizou-se para análise da confiabilidade o coeficiente de correlação de Pearson. A análise de concordância entre os métodos foi realizada como propõe Bland & Altman.  O nível de significância foi considerado igual ou menor a 5%.7
RESULTADOS
Foram avaliados 31 indivíduos, com média de idade 22.48 anos. Nove eram homens e 22 mulheres. Todos eram estudantes, a maioria sedentária, sendo que, apenas seis relataram realizar atividade física com certa regularidade. Quatro voluntários apresentaram a mão esquerda como dominante e 27 eram destros.
Na análise da confiabilidade entre os instrumentos de medida JamarÒ e KratosÒ foi observada uma confiabilidade moderada, com o coeficiente de Pearson de r= 0,74, a= 0,001.
Quando comparada a concordância entre ambos os métodos, por meio da análise proposta por Bland & Altman, os resultados também sugeriram uma concordância moderada. Esses resultados podem ser observados no gráfico de dispersão das diferenças entre as médias das medidas e a média das medidas de ambos os instrumentos (Figura 4), assim como a análise do gráfico demonstrou limites de concordância amplos, indicando diferença entre as médias das medidas observadas entre ambos os instrumentos.

DISCUSSÃO
As medidas de força de preensão manual são consideradas preditivas para vários desfechos funcionais na área do envelhecimento e desfechos ortopédicos relacionados à força muscular, em particular em relação às lesões de membros superiores. Dessa forma, esse estudo teve como objetivo verificar a confiabilidade teste-reteste dos dinamômetros manuais - KratosÒ e JamarÒ e averiguar a validade concorrente do KratosÒ em relação ao JamarÒ. Os resultados demonstraram uma confiabilidade moderada entre os instrumentos, assim como uma concordância moderada entre os resultados.

Macdermid et al., em um estudo similar, examinaram a confiabilidade inter-examinadores, utilizando o dinamômetro JamarÒ, em pacientes com disfunções da extremidade superior, incluindo neuropatias, doenças neuromusculares e osteoartrites e, documentaram elevados índices de correlação entre as medidas (ICC > 0,87).8 Da mesma forma, Peolsson et al. utilizaram o dinamômetro JamarÒ, em indivíduos saudáveis e com radiculopatia cervical, e, encontraram alta confiabilidade intra (ICC = 0,94) e inter-examinadores (ICC = 0,98), concluindo que a utilização prática do instrumento é indicada.9 Os resultados desses autores corroboram com os achados do presente estudo, que demonstraram que o dinamômetro JamarÒ e o KratosÒ são instrumentos confiáveis, tanto para serem administrados por examinadores diferentes quanto em momentos distintos, garantindo uma documentação adequada da força de preensão manual.

Sabe-se que, nas disfunções dos membros superiores a força de preensão palmar pode ser acometida e é uma das variáveis mais utilizadas na prática clínica, para a documentação de desfechos funcionais. Dessa forma, a utilização de dinamômetros possibilita documentar com precisão essas alterações.10 No entanto, diferenças nas características dos aparelhos poderiam influenciar nas medidas, comprometendo sua comparação. Esse pressuposto não foi confirmado pelo presente estudo que demonstrou, por meio dos seus resultados que, apesar das diferenças ergonômicas dos aparelhos, com destaque para as alças e o peso de cada um deles, não houve influência nas medidas, comprovada pela boa concordância entre elas.

Na análise das médias das medidas obtidas pelos dois instrumentos no gráfico de dispersão observa-se certa dispersão dos dados, indicando que, apesar de apresentarem correlação moderada, as medidas apresentaram certa discrepância de um aparelho com o outro. Importante lembrar que, apesar da correlação moderada entre os aparelhos, observa-se que o dinamômetro JamarÒ é o mais adequado para pesquisas, sendo o mais utilizado nos estudos publicados, por apresentar medidas mais consistentes e menos dispersas. Por outro lado, baseado nos resultados observados, pode-se afirmar, mesmo com uma maior dispersão dos dados analisados que, o dinamômetro KratosÒ mostrou ser adequado e confiável para utilização na prática clínica, considerando-se as suas medidas consistentes e reprodutíveis. 

Uma limitação do estudo pode ter sido a observação apenas em uma população jovem e saudável. Considerando que, algumas disfunções ortopédicas e o próprio envelhecimento podem ocasionar deformidades e alterações anatômicas de dedos e punho, realizar esse estudo com populações específicas e com idosos deve ser considerado futuramente.

CONCLUSÃO
Os resultados do estudo permitem afirmar que, apesar dos aparelhos KratosÒ e JamarÒ apresentarem características distintas como peso e diferença das alças, ambos possuem boa confiabilidade e são semelhantes na mensuração da força de preensão manual, sendo adequados para utilização na prática clínica. 


REFERÊNCIAS
  1. Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ. Importance and clarification of measurement propperties in rehabilitation. Rev. bras. fisioter. 2006;10(2):137-46.

  1. Figueiredo IM, Sampaio RF, Mancini MC, Silva FCM, Souza MAP. Teste de força de preensão utilizando o dinamômetro Jamar. Acta Fisiatr 2007;14(2):104–10.

  1. Portney LG, Watkins MP. Reliability. In: Portney LG e Watkins MP, editores. Foundations of clinical research. 2nd ed.  New Jersey : Prentice Hall Health; 2000. P. 61 -75.

  1. Clerke A, Clerke J. A literature review of the effect of handedness on isometric grip strength: differences of the left and right hands. Am J Occup Ther 2001;55(2):206-11.

  1. Scott AD, Trombly CA. Avaliação. In: Trombly CA. Terapia ocupacional para disfunção física. 2 ed. São Paulo: Santos; 1989.

  1. Mathiowetz V, Weber K, Volland G, Kashman N. Reliability and validity of grip and pinch strength evaluations. J Hand Surg 1984;9A(2):222-6.

  1. Bland JM, Altman DG. Statistical Methods for assessing agreement between two methods of clinical measurement. Lancet 1986: 307-310.

  1. MacDermid JC, Kramer JF, Woodbury MG, McFarlane RM, Roth JH. Interrater reliability of pinch and grip strength measurements in patients with cumulative trauma disorders. J Hand Ther 1994;7(1):10-4.

  1. Peolsson A, Hedlund R, Oberg B. Intra- and Inter-Tester Reliability and reference values for hand strength. J Rehab Med 2001;33(1):36-41.

  1. Fess EE. Documentation essential elements of an upper extremity assessment battery. In: Hunter JM, Mackin EJ, Callahan AD. Rehabilitation of the hand: surgery and therapy. 4th ed. St. Louis: Mosby; 1995.









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