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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Estudo do processo inflamatório na hérnia de disco lombar

A hérnia de disco lombar é freqüente origem de dor crônica. Apesar de importantes pesquisas nas últimas décadas, o tratamento desta patologia ainda não apresenta resultados clínicos satisfatórios. Existem evidências de que a compressão mecânica do tecido nervoso provocada pela extrusão do disco intervertebral não é o único mecanismo envolvido na sintomatologia da hérnia de disco lombar e não explica totalmente as características do quadro clinico e a sua evolução para um estado crônico. Nos últimos anos cresce a hipótese da participação de um processo inflamatório no tecido nervoso local provocado pela presença do núcleo pulposo do disco intervertebral. Mediante esse cenário, desenvolvemos um modelo experimental em ratos que reproduz o quadro clínico da hérnia de disco lombar em humanos para estudar o papel dessa inflamação na gênese da dor. Foi coletado o núcleo pulposo autólogo (NP) de discos intervertebrais da base da cauda e implantados na coluna lombar, em diferentes níveis e em diferentes locais. Quando o NP foi sobreposto no gânglio da raiz dorsal (GRD) de L5, os ratos desenvolveram hiperalgesia em todos os testes mecânicos (Randall e Sellitto e von Frey eletrônico) e no teste térmico (Hargreaves). Foi também avaliada a influência da retirada cirúrgica do estímulo (NP) e constatou-se que, quando retirado precocemente o quadro hiperalgésico apresentava completa reversão, quando retirado na terceira semana mostrava resultados intermediários e numa fase tardia (após cinco semanas) permanecia irreversível. Nossos resultados também demonstraram a presença de concentrações significativas das citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-1β, CINC-1) no NP, as quais parecem estar mediando o processo inflamatório induzido no GRD. A análise histopatológica dos GRDs em tempos diferentes, mostrou um processo degenerativo progressivo dos neurônios com importante proliferação de células da glia, e um aumento expressivo da sintase de óxido nítrico induzida (i-NOS), irreversível após a quinta semana. A participação das citocinas TNF-α, IL-1β e CINC-1 foram verificadas pelo tratamento do NP coletado com anticorpos específicos anti-citocinas. O bloqueio da citocina TNFα demonstrou redução significativa da dor tanto na fase aguda, como na fase crônica. A inativação da IL-1β demonstrou redução significativa da dor aguda, mas não do quadro crônico. O bloqueio da CINC-1 não apresentou ação analgésica na fase aguda, mas mostrou-se eficiente na fase crônica. Finalmente realizamos o tratamento pós-operatório dos animais com diferentes classes de drogas analgésicas e antiinflamatórias. A morfina e a dexametasona apresentaram o maior efeito analgésico, a indometacina, foi capaz de inibir o quadro álgico agudo em cerca de 50%, enquanto que o atenolol mostrou discreta redução da hiperalgesia aguda, mas foi eficaz no quadro crônico (após 14 dias). A associação da indometacina com atenolol induziu feito similar ao observado com administração da indometacina isoladamente na fase aguda e manteve-se eficiente na fase crônica. Esses dados sugerem que na fase aguda a participação das prostaglandinas é mais relevante, enquanto na fase crônica as aminas simpáticas têm participação mais proeminente. Concluindo, o modelo experimental inflamatório de hérnia de disco lombar em ratos mostrou-se confiável, reprodutível e de baixo custo. Ele permitiu o acompanhamento da hiperalgesia na fase pós-operatória aguda e crônica, possibilitando o estudo dos mecanismos inflamatórios envolvidos e o teste de novas terapias no tratamento desta patologia. Nossos resultados sugerem que a inflamação do gânglio da raiz dorsal induzida pelo núcleo pulposo do disco intervertebral apresenta papel importante na gênese da lombociatalgia e na sua evolução para dor crônica, esse processo é mediado pelas citocinas TNF-α, IL-1β, CINC-1; demonstram ainda que a evolução da hiperalgesia é proporcional ao tempo de contato do NP com o GRD e é sensível a diferentes tratamentos farmacológicos.



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